Minha corpa é voz de afeto : a cisheteronormatividade encarnada na cidade e o direito como impedimento para o fim do mundo.
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2022
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Resumo
O Direito institucionalizado tem se empenhado em impedir o fim do mundo, mantendo as
estruturas do cistema que permeiam a cidade, em vez de promover rupturas junto a movimentos
sociais que reivindicam direitos humanos. Há contornos existentes no cotidiano de pessoas
trans* nas cidades que são ignorados pelo Direito institucionalizado. A memória da luta e
opressão do período da ditadura militar proporciona o entendimento de continuidades no modus
operandi do poder público, não tendo sido a democracia capaz de tornar todas as pessoas
sujeitas de direito. A partir da articulação entre as teorias transfeminista, decolonial e queer, é
possível depreender que há uma teia de poderes estabelecida pela cisheteronormatividade,
enredada na branquitude, que opera no cotidiano de pessoas trans* na cidade e no convívio nos
espaços públicos. Por diversos dispositivos mobilizados, a cisheteronormatividade expulsa
pessoas trans* de ambientes públicos, retirando a possibilidade de serem consideradas cidadãs
para serem apenas um perigo a ser retirado de vista por políticas higienistas. Direitos específicos
para pessoas LGBTI+ são demasiadamente precários e não abarcam as pessoas em maior
vulnerabilidade do grupo. Os demais direitos costumam não considerar sua existência. A
elaboração teórica do Direito à Cidade busca concretizar a gestão democrática, a possibilidade
de pleitear projetos utópicos de cidade e a apropriação de espaços públicos, conceitos mais
distantes de sua positivação, afastando as soluções de problemas reais de grupos sociais
dissidentes. O direito institucionalizado é uma estrutura que pressupõe exclusões cistêmicas
que podem ser tensionadas, mas não abolidas. A atmosfera criada pelo direito busca perpetuar
o modelo posto, que é cisheteronormativo. Assim, a pesquisa pretende privilegiar o direito não
institucionalizado, como propõe o Direito Achado na Corpa, derivação do Direito Achado na
Rua, que busca fortalecer outras formas de produção do direito, possivelmente menos
vinculadas à colonialidade. O que tem permitido a vida e conquistas de pessoas trans* são o
movimento social, organizações sociais e múltiplas formas de rupturas e coletivizações de
modos de vida disruptivos que se encontram cada vez mais fortalecidos, caminhos sem
orientação prevista, mas que abrem portas para o fim do mundo. A pesquisa tem cunho
qualitativo, jurídico-sociológico e é construída como pesquisa militante, contando com campo
realizado de forma online por entrevistas semiestruturadas com pessoas trans* participantes
ativas de movimentos LGBTI+ e do programa TODXS Embaixadorxs de 2020, cujo tema foi
“meu corpo é voz de afeto”. As perguntas objetivaram uma compreensão de afetos que
informam a relação dessas pessoas com espaços públicos da cidade e com o Direito. Utilizouse pistas da cartografia para desenhar a rede de forças que se conectam em movimento
permanente no que foi relatado. O objetivo geral da pesquisa consiste em compreender o afeto
do direito para pessoas trans* no ambiente da cidade e, a partir de análises transfeminista,
decoloniais e queer, identificar estruturas cisheteronormativas que impedem acesso a espaços
públicos e desafios para a concretização do Direito à Cidade, localizando algumas rupturas
produzidas que viabilizam vidas e abrem espaço para o fim do mundo, que o direito
institucionalizado se empenha em impedir.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Direito. Departamento de Direito, Escola de Direito, Turismo e Museologia, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Direitos sexuais - direitos LGBTI+, Ideologia de gênero, Interesses coletivos, Afeto - psicologia
Citação
MELLO, Germana Maria Guinle de. Minha corpa é voz de afeto: a cisheteronormatividade encarnada na cidade e o direito como impedimento para o fim do mundo. 2022. 205 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Escola de Direito, Turismo e Museologia, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2022.