Detoxificação e aproveitamento da fração líquida proveniente do prétratamento do bagaço de cana-de-açúcar visando produção de xilitol.
Nenhuma Miniatura Disponível
Data
2018
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Uma biorrefinaria de cana-de-açúcar é definida como um processo industrial capaz de
produzir diferentes produtos e subprodutos a partir da mesma matéria-prima. Este sistema
geralmente trabalha com o processamento de uma biomassa para a produção de um
combustível, um produto químico ou energia/calor. O Brasil é o maior produtor mundial de
cana-de-açúcar, que é a maior cultura cultivada globalmente, sendo que o resíduo gerado após
a extração do suco é uma boa fonte de biomassa que pode ser usada em diversos processos
dentro da indústria. A biomassa lignocelulósica apresenta um enorme potencial para produção
de biocombustíveis devido à sua grande disponibilidade e baixo custo. Entretanto, para que o
etanol lignocelulósico seja competitivo e economicamente viável é necessário integrá-lo à
produção de outros compostos. Poliol com elevado poder edulcorante, semelhante à sacarose,
o xilitol é tolerado por diabéticos e tem várias aplicações. Sua produção química pode ser
substituída pela produção biotecnológica, a qual teve sua viabilidade demonstrada por
diversos trabalhos, sendo bastante eficiente quando integrada a produção de etanol de segunda
geração. A etapa inicial para obtenção destes produtos é o pré-tratamento, que altera a
estrutura da biomassa e facilita o acesso das enzimas para liberar açúcares fermentescíveis.
Quando se utiliza ácido diluído, este processo permite moderada liberação de glicose e xilose.
Assim, trabalhando em um processo integrado, a glicose liberada pode ser fermentada a
etanol, enquanto a xilose é direcionada para produção de xilitol. Uma outra alternativa seria a
utilização de um micro-organismo que consiga fermentar pentose a etanol. Entretanto, como
desvantagem, há a formação de inibidores da fermentação microbiana, o que demanda a
necessidade de uma etapa adicional de detoxificação. O objetivo deste trabalho é propor uma
estratégia de detoxificação que permita aumentar a produção de açúcares e produtos de valor
agregado no processo de etanol 2G. Inicialmente, foram testadas diferentes concentrações de
ácido sulfúrico (0,5, 2 e 4% v/v) para o pré-tratamento do bagaço de cana (10% p/v) a 120 °C
por 1 hora e foram avaliados a eficiência da liberação de glicose e xilose e a formação de
compostos tóxicos. Foi observada maior liberação de açúcares a partir do tratamento com 2%
de ácido em relação àquele utilizando 0,5%, no entanto não foi observada diferença
expressiva para o tratamento com 4% de ácido em relação a 2%. A formação de inibidores foi
proporcional à concentração de ácido. Desta forma, foi selecionada a concentração de 2% de
H2SO4 e foram testadas a concentração de biomassa (5, 10, 15 e 20%) e tempo de prétratamento
(30 e 60 min). Maiores concentrações, tanto dos açúcares quanto dos inibidores,
foram observadas no tratamento com 20% de biomassa e tempo de 60 min. Os ácidos
alifáticos (acético e fórmico) e os furanos (furfural e hidroximetil-furfural) foram detectados
em todos os tratamentos com 60 min e apenas no tratamento usando a maior concentração de
biomassa (20%) durante 30 min. Os fenólicos foram também detectados em todos os
tratamentos. Assim, a melhor condição para o pré-tratamento foi selecionada como sendo
aquela que utilizou 15 % de bagaço, por 30 min, e que forneceu 5,32 g.L-1 de glicose, 27,7
g.L-1 de xilose e apenas compostos fenólicos (1,70 g.L-1) como inibidores. Na detoxificação, o
tratamento com carvão ativado não removeu uma parcela significativa dos fenólicos,
enquanto o tratamento com a lacase presente no extrato bruto de Chrysoporthe cubensis
proporcionou a oxidação de 80% destes compostos, com aumento de 20% de glicose e xilose.
A partir deste resultado, fez-se um delineamento composto central rotacional com os fatores
concentração de fenólicos e carga de lacase presente no extrato bruto de Chrysoporthe
cubensis para detoxificação. A validação exibiu valores satisfatórios para os parâmetros bias e
acurácia, o que indica um bom ajuste das superfícies geradas e o escalonamento permitiu
conhecer o comportamento da enzima para oxidação do seu substrato em volumes maiores.
Para a sacarificação direta com Cellic CTec 2, a redução de 14% nos inibidores pela lacase
permitiu um aumento de 30% na produção de xilose, visto que hemicelulases são mais
susceptíveis a ação destes compostos. Esta etapa de detoxificação precedeu a fermentação da
fração líquida por Debaryomyces hansenii UFV-1 em que a redução de 7% no conteúdo
fenólico promoveu um aumento de 21 vezes na produção de xilitol.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Pró-Reitoria de Pesquisa de Pós Graduação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Bagaço de cana, Xilitol
Citação
PASSARINHO, Amanda Tafuri Paniago. Detoxificação e aproveitamento da fração líquida proveniente do prétratamento do bagaço de cana-de-açúcar visando produção de xilitol. 2018. 119 f. Tese (Doutorado em Biotecnologia) - Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2018.