Sobre coragem e resistência : contando a história de Leona, professora e mulher trans.
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Data
2018
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Resumo
É notória a dificuldade que transexuais/travestis enfrentam para permanecer nos espaços
escolares, tendo em vista as agressões físicas e/ou psicológicas que lhes são infligidas
cotidianamente nesses locais, por parte de seus pares e, até mesmo, de professores/as e
profissionais da educação. No cotidiano escolar, as pessoas trans não sofrem apenas através
das manifestações diretas de outras pessoas, mas também em razão do despreparo de
professores/as e demais profissionais de educação para com a realidade vivenciada por essa
população. Embora os espaços escolares possam se configurar como locais de reprodução e
legitimação da transfobia, evidencia-se que alguns/as transexuais e algumas travestis, a
despeito de todas as adversidades, constrangimentos e violência a que são submetidos/as para
permanecerem-se nessas instituições, concluem seus estudos. Evidencia-se, ainda que de
forma incipiente e reduzido a poucos casos, a emergência de docentes travestis/transexuais
nas instituições escolares, que conseguiram suportar as imposições heteronormativas.
Pressupondo-se que retornar à escola mesmo como professoras, pode se configurar como uma
nova luta pelo seu reconhecimento e pertencimento social, esta dissertação investigou como
se relaciona a história de vida de Leona, professora transexual da cidade de Congonhas/MG,
seu ingresso e permanência na docência, por meio da narrativa de suas experiências e
vivências. Com relação à metodologia, esse estudo optou, dentre as pesquisa qualitativas,
pela pesquisa etnográfica. Relativo aos instrumentos de coleta e análise, foram utilizadas a
entrevista preliminar, a entrevista narrativa e entrevista com a diretora de uma das escolas
onde Leona trabalha, o levantamento bibliográfico, a análise de um memorial autobiográfico
cedido pela colaboradora, além de observação participante em uma das escolas onde a
colaboradora trabalha. Para análise da narrativa, baseando-se nas narrativas de outras
professoras transexuais, estabeleceu-se os seguintes marcadores: seu processo de identificação
e como se deu a construção de sua identidade de gênero; a relação com sua família; sua rede
de apoio social; sua trajetória escolar; sua permanência nos espaços escolares e possíveis
mecanismos para manter-se na profissão docente; a relação com seus/uas alunos/(as); a
relação com os pais/mães de alunos/(as); a relação com o corpo docente e outros funcionários
da escola e o uso do nome social. A análise dos dados permitiu estabelecer que Leona se
autoidentifica como mulher trans buscando um distanciamento da identidade de gênero
travesti; tendo uma trajetória escolar marcada por preconceito e discriminação, embora tenha
iniciado seu processo de transformação após ter sido aprovada em concurso público para
docente. Na sua relação com a família, evidenciou que houve uma rejeição paterna acerca de sua identidade de gênero. Em contrapartida, houve apoio por parte de sua mãe, que acabou
por se configurar como um importante membro de sua rede de apoio social. Por diversas
vezes, Leona deparou-se com atitudes transfóbicas enquanto docente, perpetradas por colegas
e dirigentes. Assim como outras professoras transexuais, Leona utiliza mecanismos para
manter-se na profissão docente, tais como ameaças de processos, realização de um trabalho
singular e a estabilidade no serviço público. Seu nome social não é adotado em nenhum dos
locais onde trabalhou/trabalha atualmente. Por outro lado, a relação com os alunos aponta
para um reconhecimento e respeito ao gênero com o qual ela se identifica.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Educação. Departamento de Educação, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Professores, Transexualidade, Transfobia, Educação, Travestis
Citação
MODESTO, Rubens Gonzaga. Sobre coragem e resistência: contando a história de Leona, professora e mulher trans. 2018. 169 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018.