Paleoflora e palinologia da Paleolagoa Seca (Catalão, GO, Brasil) e implicações para a paleoecologia da região meridional do Cerrado.
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Data
2022
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Resumo
O presente estudo traz informações inéditas a respeito das condições paleoambientais e
paleoclimáticas da Paleolagoa Seca, um depósito fossilífero do Quaternário Superior de origem
lacustre situado no complexo ultramáfico-alcalino-carbonatítico (Catalão I) do município de
Catalão, Goiás, Brasil. Neste estudo foram realizadas análises de 171 folhas fósseis encontradas
no nível fossilífero do afloramento da Paleolagoa Seca. Foram realizadas nas folhas a Análise da
Margem Foliar (AMF), Análise da Área Foliar (AAF) e a identificação taxonômica de cada
espécime. Para essas análises foram utilizados modelos matemáticos baseados em equações
lineares univariadas com calibrações para o Hemisfério Sul para determinar a temperatura e
precipitação local na época de deposição dessas folhas. A fim de obter um resultado mais
condizente com a realidade, os modelos matemáticos foram submetidos previamente a uma
floresta moderna com condições geográficas similares às da Paleolagoa Seca, a Estação Ecológica
do Panga. Dos 10 modelos utilizados para determinar a Temperatura Média Anual (TMA), seis
apresentaram valores próximos à realidade e as outros 4 superestimaram a temperatura, sendo
então desconsideradas. Quanto aos modelos utilizados para estimativa da Precipitação Média
Anual (PMA) todos os cinco utilizados apresentaram valores próximos à realidade. A TMA atual
do município de Catalão é de 22,6°C e os resultados obtidos por meio da AMF variaram entre
22,6°C e 26,6°C, a PMA atualmente é de 1434 mm, e os resultados obtidos por meio da AAF
variaram entre 647 a 948 mm. Além das análises dos macrofósseis vegetais, também foram
realizadas análises de Difração de Raios X (DRX), com a finalidade de realizar a identificação da
associação mineralógica do afloramento e testemunho, análises palinológicas para complementar
e comparar os dados do conteúdo da macroflora, e análises de fragmentos de carvão do
afloramento e testemunho. Este estudo detectou o registro mais antigo de incêndios naturais no
Cerrado, anterior há 43.500 anos AP (Antes do Presente). Os fragmentos de carvão foram
identificados em morfotipos segundo a classificação de Enache and Cumming (2006), sendo o
tipo F predominante nas amostras. No intuito de situar esse registro no tempo geológico, quatro
amostras do testemunho e duas amostras do afloramento foram enviadas para datação
radiocarbônica pela Espectrometria de Massa do Acelerador (MAS - Accelerator Mass
Spectrometry) para o Laboratório Beta Analytic (Miami, USA). Apenas duas amostras do
testemunho apresentaram idades dentro do limite de detecção do laboratório, as outras quatro
ultrapassaram esse limite. A datação do nível fossilífero da Paleolagoa Seca apresentou uma idade
de ~43.000 anos cal. AP e o do nível subsequente à camada fossilífera ~35.000 anos cal. AP. O
conjunto de dados indicou que há 43.000 anos AP a temperatura na região de Catalão era até 3°C
mais alta que a atual e a precipitação média anual era cerca de aproximadamente 500 mm mais
baixa que a atual. Os resultados das DRXs revelaram a presença de jarosita, um hidrossulfato de
ferro que ocorre normalmente quando há oxidação de minerais de sulfeto, como a pirita que foi
encontrada na camada de argilito preto anterior à do nível fossilífero, indicando que o ambiente
em que as folhas foram depositadas foi exposto à superfície, indicando uma diminuição do nível
de água da lagoa, corroborando a baixa precipitação obtida na AAF. A análise palinológica do
nível de argilito preto revelou a presença de uma vegetação típica de Mata de Galeria e um estrato
herbáceo arbustivo típico de ambientes alagáveis, além da presença de árvores típicas da Mata
Atlântica, como Cecropia e Podocarpus. Essa vegetação é condizente com condições climáticas
mais úmidas antes de 43.500 anos AP. A identificação taxonômica das folhas fósseis e dos dados
polínicos da camada fossilífera revelaram uma vegetação típica de Mata de Galeria e Mata Seca
no entorno do lago e uma vegetação mais aberta do Cerrado, como Cerrado strictu sensu no platô
de Catalão. Não foi identificado fragmentos de carvão na camada fossilífera. A predominância do
morfotipo F nas análises dos fragmentos de carvão da camada de argilito preto, indicam que os
incêndios que ocorreram na região eram incêndios de superfície, típico dos incêndios naturais que
ocorrem no Cerrado. Os resultados da Paleolagoa Seca foram comparados com o estudo de outra
macroflora fóssil presente em um sítio próximo ao da Paleolagoa Seca, denominado Paleolago
Cemitério e com dados de espeleotemas do Centro-leste e do Nordeste do Brasil.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Paleoecologia - pleistoceno, Fósseis vegetais, Palinologia, Paleolimnologia, Carvão - geologia, Incêndios, Cerrado
Citação
FOLLADOR, Gabriela Luíza Pereira Pires. Paleoflora e palinologia da Paleolagoa Seca (Catalão, GO, Brasil) e implicações para a paleoecologia da região meridional do Cerrado. 2022. 159 f. Tese (Doutorado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2022.