Influência da sazonalidade climática na estabilidade de taludes em Voçorocas no Complexo Metamórfico do Bação.

Abstract

A região de rochas gnáissicas e graníticas do Complexo do Bação, no interior do Quadrilátero Ferrífero (MG), é conhecida historicamente pela existência de alta densidade de voçorocas de grandes dimensões, alcançando até 50m de profundidade, configurando uma situação de elevado risco geotécnico para moradores e construções no entorno. Embora as causas que provocam tais erosões sejam variadas, é sabido que, ao atingir o nível freático, o avanço é controlado por condições complexas de erosão subsuperficial e, sobretudo, por escorregamentos rotacionais. Dados históricos mostram que os escorregamentos nos taludes destas voçorocas ocorrem não somente na estação chuvosa, como também na estação seca. Objetivando entender melhor a dinâmica destes taludes, foi elaborado um modelo conceitual detalhado de uma voçoroca instável baseando-se em grande volume de dados prévios e de novos levantamentos de campo geofísicos e de aerofotogrametria, além de novos ensaios de laboratório de caracterização dos solos. Com este modelo conceitual, fez-se pelo período de um ano hidrológico a análise de estabilidade do talude mais crítico desta voçoroca por equilíbrio-limite acoplada a uma simulação numérica de fluxo por elementos finitos. Os resultados mostraram duas variações cíclicas do nível freático ao longo do ano hidrológico, 2,97m no sopé do talude e 1,24m no interior do talude, atingindo o nível máximo geral no período de estiagem devido a recarga atrasada em consequência da espessa zona não saturada. Também foi constatada a existência de fluxos ascendentes no sopé do talude com elevados gradientes de saída. O fator de segurança do talude apresentou um comportamento cíclico e pouco variável, com valores baixos ao longo do ano hidrológico, com uma diminuição de 3% no período de estiagem. Comprovou-se, portanto, que os taludes das voçorocas apresentam condição metaestável e que podem se instabilizar tanto no período úmido, quando as águas recarregam o sopé do talude, como no período seco, por recarga atrasada. Acredita-se que com estes resultados seja mais fácil dimensionar métodos de estabilização destas feições.