PPGSN - Doutorado (Tese)

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    Atividade física durante a pandemia de Covid-19 : interfaces com a saúde física, qualidade do sono e autoavaliação de saúde.
    (2024) Moura, Samara Silva de; Meireles, Adriana Lúcia; Carraro, Júlia Cristina Cardoso; Meireles, Adriana Lúcia; Sales, Aline Dayrell Ferreira; Parajára, Magda do Carmo; Oliveira, Lenice Kappes Becker; Menezes Júnior, Luiz Antônio Alves de
    Introdução: As evidências científicas produzidas em relação à atividade física (AF) são consideráveis e o aumento exponencial nos últimos anos forneceu informações congruentes no que concerne à sua importância e benefícios à saúde. Uma rotina regular de AF tem sido associada a uma melhor saúde física, como controle da homeostase glicídica e lipídica, bem como com uma melhor qualidade do sono e autoavaliação de saúde (AAS). Contudo, a pandemia da Covid-19 influenciou drasticamente a prática de AF. Objetivo: Avaliar os fatores associados à inatividade física (IF em residentes da região dos Inconfidentes, Minas Gerais, durante a pandemia da Covid-19. Métodos: Estudo transversal de base populacional em adultos, realizado de outubro a dezembro de 2020, em dois municípios brasileiros (Ouro Preto e Mariana). Foram coletados 1762 indivíduos, por meio de entrevista face a face, utilizando um questionário estruturado em formato eletrônico com questões sociodemográficas, hábitos de vida e condições de saúde. Foram conduzidas coletas de sangue para avaliação dos níveis séricos de lipoproteínas e concentração plasmática de hemoglobina glicada. A prática de AF foi avaliada por autorrelato, por questão adaptada do estudo "Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico “(VIGITEL)". A AF foi classificada como fisicamente ativos ou inativos, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). A qualidade do sono foi medida pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP). A AAS foi avaliada por meio da pergunta: “Como você classificaria seu estado de saúde?” As respostas foram agrupadas em AAS negativa (regular, ruim ou muito ruim) e AAS positiva (muito bom ou bom). Além disso, foram mensurados os níveis séricos de lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e o colesterol total (CT), usando o método enzimático colorimétrico. As concentrações plasmáticas de hemoglobina glicada (HbA1c) foram avaliadas por meio do método imunoturbidimetria. Resultados: Os resultados serão apresentados em cinco artigos. No artigo I observou-se que a prevalência da IF foi mais elevada nos primeiros meses (março a julho/2020) da pandemia (M1) (67,3%), em comparação com os meses de outubro a dezembro de 2020 (M2) (58,7%) e no período anterior ao início da pandemia (M0) (39,7%). Indivíduos com sobrepeso, obesidade e baixo nível de escolaridade apresentaram maior probabilidade de serem fisicamente inativos. No artigo II, 51,9% apresentavam má qualidade de sono e 79,8% não estavam em trabalho a partir de casa (home office). A IF associou-se à má qualidade do sono (OR: 1,73; IC95%: 1,07-2,79) e ausência de home office (OR: 1,86; IC95%: 1,08-3,23). Na análise combinada, os indivíduos com qualidade de sono ruim e que não estavam em home office tinham uma chance 4,19 vezes maior de serem inativos fisicamente (OR: 4,19; IC 95%: 1,95-8,95). Referente ao artigo III, 7,1% dos participantes apresentaram níveis elevados de hemoglobina glicada (HbA1c). A análise de mediação revelou que a IF aumentava em 2,62 vezes (OR:2,62, IC95%:1,29-5,33) a probabilidade de níveis elevados de HbA1c, sendo que 26,87% desse efeito foi mediado pelo excesso de peso (OR:1,30; IC95%:1,06-1,57). O artigo IV apresentou prevalência de risco cardiovascular (RCV) intermediário a alto de 43,8% dos participantes e 56,0% estavam com excesso de peso. Na análise de mediação para o excesso de peso, constatou-se que os indivíduos fisicamente inativos apresentavam 1,90 vezes mais chance (OR: 1,90; IC95%; 1,14-3,17) de ter RCV intermediário a alto, sendo que 17,18% desse efeito foi mediado pelo excesso de peso (OR: 1,11; IC95%; 1,02-1,25). No artigo V, a prevalência de AAS negativa foi de 23,0% dos participantes e 15,5% tinham comportamento sedentário (CS) ≥ 9 horas. O modelo multivariado identificou associações entre IF e AAS negativa (OR: 1,72; IC95%: 1,01-2,93), mas não para CS. A análise de simultaneidade revelou que os indivíduos afetados por um destes comportamentos de risco à saúde tinham 1,84 vezes mais probabilidade de apresentar AAS negativa (OR: 1,84; IC95%: 1,06-3,22). Aqueles com dois comportamentos de risco à saúde tinham 2,12 vezes mais probabilidade de ter AAS negativa (OR: 2,12; IC95%: 1,03-4,39). Na análise conjunta, os que relataram ser fisicamente inativos e apresentarem CS ≥ 9 horas tiveram uma prevalência 2,15 vezes maior de AAS negativa (OR: 2,15; IC95%: 1,01-4,56). Conclusão: Este estudo revelou uma elevada prevalência de IF durante a pandemia da Covid-19. Além disso, evidenciou associação entre a IF e marcadores bioquímicos, como alterações nos níveis de hemoglobina glicada, e maior prevalência de RCV. Adicionalmente, a IF e o CS, em análise conjunta e simultânea mostraram associação com a AAS negativa. Por fim, a má qualidade do sono e não estar em home office foram associados a IF. Este estudo ressalta a importância de um comprometimento efetivo por parte dos fomentadores de políticas públicas, governantes, profissionais de saúde e pesquisadores para estabelecer medidas que incentivem e facilitem a adoção de estilos de vida mais ativos, com benefícios inquestionáveis para a saúde e o bem- estar da população.