Navegando por Autor "Leonel, Guilherme Guimarães"
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Item O campo religioso da cidade de Ouro Preto-MG entre 1980-2010 : catolicismo e diversificação religiosa.(2017) Leonel, Guilherme Guimarães; Mollo, Helena Miranda; Mollo, Helena Miranda; Alves, Paula Renata; Andrade, Luciana Teixeira deO campo religioso brasileiro passou por profundas transformações nas últimas décadas que levaram à fragmentação institucional e à intensa circulação de pessoas por novas alternativas e práticas religiosas, colocando definitivamente em cheque o monolitismo católico no Brasil. O presente trabalho visa compreender como tal processo histórico de diversificação religiosa ocorreu em Ouro Preto-MG ao longo último meio século. Tal problemática aplicada ao município de Ouro Preto é especialmente relevante, em função de que tal cidade, como outras fundadas no período colonial brasileiro, foi profundamente marcada, em diversos aspectos de seus mais de três séculos de existência, pela interpenetração profunda entre o Catolicismo, o poder político e sua espacialidade. Ao longo do século XX, o disestablishment do Catolicismo fez com que tal religião encontrasse outras formas de se colocar no espaço público. Em Ouro Preto isso ocorreu de forma pungente através de um processo de patrimonialização de seu legado histórico-arquitetônico, o que produziu historicamente a representação cívico-religiosa da “mineiridade”. Porém a despeito da ideia de homogeneidade, inerente à representação patrimonial, mesmo com suas devidas especificidades, Ouro Preto passou ao longo da segunda metade do século XX pelas transformações pelas quais passaram grande parte dos centros urbanos diante processo de industrialização do Brasil: grande crescimento demográfico desordenado decorrente da imigração e consequente diversificação dos estratos populacionais. Tal dinâmica resultou em uma ocupação muito específica do espaço e na diversificação dos repertórios culturais circulantes na cidade – inclusive o religioso. Desta forma, partindo da elaboração teórica de Bourdieu, definida no conceito de campo religioso, busca-se compreender como esse processo de multiplicação de vetores de forças religiosas produziram capitais, práticas, competição, convivência, ocupações de espaços e representações de si e da cidade. Sendo este um fenômeno multidimensional lançou-se mão de uma perspectiva e metodologia interdisciplinar capaz de jogar alguma luz sobre o complexo fenômeno estudado. Assim buscou-se compreendê-lo nas seguintes dimensões: 1) através da procura do entendimento da produção sócio-histórica e política do espaço, aliando noções básicas de georeferenciamento à pesquisa arquivística, etnográfica e de história oral, buscando as diversas relações com o espaço, com o político e com o sagrado traçadas pelas múltiplas vertentes religiosas estabelecidas na sede do município; 2) a partir da perspectiva das dinâmicas demográficas de declaração de pertencimento religioso apuradas pelos Censos IBGE entre 1980 e 2010 compreendendo a dinâmica religiosa de Ouro Preto comparativamente aos contextos mais amplos do estado de Minas Gerais e do Brasil; 3) por meio das práticas e relações político-religiosas em Ouro Preto diante do contexto histórico-jurídico republicano brasileiro no que concerne às relações entre Estado e religião, compreendendo melhor as possíveis intercessões entre Estado e religião nas práticas políticas cotidianas, e a dinâmica destas intercessões diante da diversificação do campo religioso e do próprio campo político. As conclusões caminham no sentido de que a diversificação religiosa que ocorre de forma mais geral no Brasil ocorre também em Ouro Preto, embora grande monta de tal diversificação ocorra dentro próprio universo cristão (Protestantismo (Pentecostal e Neopentecostal), há de se salientar por outro lado o expressivo crescimento do Kardecismo e dos Sem Religião. Também foi possível compreender como ocorreu a produção de espaços do sagrado que não se reconhecem dentro do paradigma da homogeneidade patrimonial, muito menos da “catolicidade” componente da “mineiridade”. Por fim, embora tenhamos detectado trânsito religioso e porosidade religiosa, estes não ocorrem através de fluxos indiscriminados e indeterminados, e a construção de um diálogo ecumênico/inter-religioso, de todas as partes, é incipiente e não-favorece a construção e uma cultura pluralista.